A historia do kung fu

A História do Kung Fu é cheia de muitas lendas e ciladas que tornam qualquer tentativa séria de transmitir uma história compreensiva e puramente factual quase impossível. A principal razão para isto é que a história de uma pessoa é a lenda de outra. Há muito poucas provas documentadas para sustentar qualquer história de Kung Fu, já que a maioria das histórias passam de pai para filho, oralmente, sem qualquer documentação escrita para comprovar. Sendo assim, tentarei cortar muito dos mitos e apresentar um relato claro. Se um relato for puramente lenda, será registrado como tal aqui.

Durante as dinastias do Norte e do Sul, o principal regime começou a atacar a área central da China, e a ordem social foi rompida. Isto criou um crescente interesse no estudo religioso. Em conseqüência, muitas figuras religiosas entraram no país. Uma, em particular, foi Bodhidharma.

Bodhidharma é uma figura obscura na história do budismo. As fontes mais fiéis para nosso conhecimento são Biographies of the High Priests (Biografias dos Altos Sacerdotes) do Sacerdote Taoh-suan (654 d.C.) e The Records of the Transmission of the Lamp (Os Registros da Transmissão da Fonte de Luz Espiritual) do Sacerdote Tao-yuan (1004 d.C.).

Apesar destas fontes aparentemente autênticas, os modernos estudiosos ou têm sido relutantes em aceitar qualquer versão da existência de Bodhidharma ou afirmam que Bodhidharma é uma lenda. Muitos historiadores budistas, contudo, denominaram Bodhidharma o 28º Patriarca do Budismo, dando provas de sua existência.

Muito parecidos com uma dança, os katis podem ser resumidos em “uma sucessão de golpes de ataque e defesa, dispostos de maneira lógica, que determinam as características de um estilo. Um estilo pode ter vários katis que normalmente obedecem a uma seqüência ordenada para aprendizado, de acordo com o estágio de evolução, complexidade dos golpes e técnica de luta.” (fonte?)

No estilo Shaolin temos onze katis de mãos livres, e diversos com armas. Os de mãos livres ensinados hoje no Brasil pelo nosso estilo (derivados do Grão Mestre Chan Kowk Wai), em transcrição oficial chinesa Pinyin e na língua do Mestre Chan (Cantonês) (entre parênteses a pronuncia aproximada em português) são:

Primeiro kati – lianbu Quan (lienbu tchuen)– “rotina treina passos” ou “passos de treino” ou “rotina de passos interligados”. Este kati foi elaborado na Academia Central de Kuoshu (Guoshu) no fim dos anos 1920.

Segundo kati (originalmente o sexto) – Duanda Quan (duanda tchuen) – tuin tá – rotina de combate à curta distância ou “luta curta”. Vários outros etilos possuem katis com o mesmo nome.

Terceiro Kati (originalmente o sétimo) – Meihua Quan (meirrua tchuen) – moy fá – rotina da flor de ameixa ou “flor de ameixa”.

Quarto Kati (originalmente o quarto) – Chuanxin Quan (tchuanxin tchuen – tchuin sam – rotina atravessa coração ou “fura coração”.

Quinto Kati (originalmente o quinto) – Wuyi Quan (wuyi tchuen) – mo ay – rotina da habilidade marcial ou “artes marciais”.

Sexto Kati (originalmente o oitavo) – Babu Quan (babu tchuen) – pá pou – rotina puxa passos ou “a arte de mudar os pés”.

Sétimo Kati (originalmente o terceiro) – Zuoma Quan (dzuoma tchuen) – tchou má – rotina monta no cavalo ou “montar cavalo”.

Oitavo Kati (originalmente o segundo) – Linglu Quan (linlu tchuen) – lien lou – rotina mostra caminho ou “servir de guia”. Pode ser interpretado com a conotação de “iniciação”.

Nono Kati (originalmente o primeiro) – Kaimen Quan (k’aimen tchuen) – koy moom – rotina abre portas ou “o primeiro de todos”, “o início de tudo” ou “abrindo a porta”.

Décimo Kati (originalmente o nono) – Lianhuan Quan (lien ruan tchuen)– lien mân – rotina de golpes contínuos ou “ataque contínuo”.

Décimo primeiro (originalmente o décimo) – Fashi Quan, significa –fá ce – rotina dos ritos ou “perfeição” ou “técnicas habilidosas”.

Katis especiais: “Bêbado”, “Macaco”, Serpente” e “Dragão”.

Katis de estilos internos: “Tai Chi Chuan”, “Hsing I”, Pa Kua Chen” e “Pa Ki”.

Katis de estilos externos: “Louva-a-Deus”, “Águia”, “Garça”, “Dez Animais”, “Luo Hap”, “Luo Han” e “Tan Tuei”.

Armas: O aprendizado na escola Shao Lin Norte possui um total de 48 armas, com diversos Katis que podem ser simples ou duplos, individuais ou em duplas ou trios (Toi Sao).

Por muitas vezes, no decorrer da história, os praticantes de kung Fu tiveram que esconder sua arte. Mas como o fazer sem correr o risco de perdê-la? Os katis então foram usados como forma de maquiar os golpes, assim, ao mesmo tempo em que carregam a essência da arte a escondem.

À primeira vista, uma dança sem muito sentido marcial, os katis se revelaram uma ótima ferramenta para a memorização das técnicas aprendidas, de uma forma que só o artista marcial que o esteja praticando saiba da aplicação de cada movimento.

De mãos livres, com armas curtas, médias ou longas, os Katis apresentam-se em dificuldade crescente, de forma que o aluno evolui conforme aprende cada novo Kati.

Outra característica dos katis (principalmente do wushu moderno) remete-nos à influência do teatro e do circo chinês, pois os praticantes de Kung-fu (extrapolando o estilo Shaolin) refugiaram-se por muito tempo nos circos e teatros, incorporando noções de expressão e comunicação teatral, além de acrobacias circenses (hoje em dia o wushu moderno/ de competição, é um das mais belas formas de movimento corporal existente no mundo).

Devido a todos estes fatores, tem-se nos katis uma das melhores formas de praticar os conhecimentos aprendidos. Fazê-los com consciência, graça e fluidez e ainda respeitar os limites estruturais do corpo, encontrando a saúde é um dom raro que pouquíssimos estudantes conseguem.

Para a execução equilibrada de um kati, é necessário consciência e equilíbrio emocional. Sim, o kati serve muito bem como via saudável de descarga do chi, como forma de expressão de sentimentos represados no interior, como forma de ampliar nossa capacidade de manifestação, de expressão de energia, de concentração, de sensações corporais (motoras), mentais (cognitivas), sentimentais (psicológicas) e espirituais (transcendência); mas, se executado com descontrole, com raiva, por exemplo, pode sobrecarregar o corpo com uma energia maior do que a suportada, acarretando danos. É por isso que simplesmente ao ver um kati do aluno, o professor experiente já sabe muito sobre ele.

Outro fato importante sobre os katis é a relação que se estabelece entre o praticante e as armas que ele manuseia. Transformar uma arma em extensão do corpo e estabelecer uma sincronia e sintonia com a mesma; equilibrar os movimentos do corpo com o peso, forma e velocidade da arma, possibilita ao praticante a expressão da criatividade e a livre circulação da energia (chi). Saber se usar das diversas ferramentas que a mente humana criou no decorrer da nossa história de forma plena e saudável é sinal de flexibilidade e equilíbrio.

Quando ocorre o perfeito equilíbrio entre praticante e arma, fato que transforma esta em extensão do corpo, vemos um espetáculo magistral. Quando uso uma arma, ela torna-se um pedaço de meu corpo, minha energia a preenche, meu sangue corre em seu corpo. Quando toco o adversário com ela é uma parte de mim que o toca. Não é à toa que a espada do samurai reflete o seu espírito.

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